DESISTÊNCIA IMÓVEL NA PLANTA
CAE rejeita projeto sobre distrato na compra de imóveis
Após mais de uma hora de discussão, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) rejeitou nesta terça-feira (10) o projeto que define regras para a desistência da compra de imóvel na planta, o chamado distrato. Foram 14 votos contrários ao PLC 68/2018 e seis favoráveis. A proposta, com parecer contrário, segue para o Plenário, que poderá aprová-la ou rejeitá-la definitivamente.
Os
senadores contrários ao projeto insistiram que a redação, da forma como
saiu da Câmara, prejudica o consumidor que ficar desempregado e não
tiver condições de continuar a pagar as prestações do imóvel. Já os
favoráveis à proposta alegaram que as regras atuais geram insegurança
jurídica e abrem espaço para especuladores obterem ganhos financeiros,
prejudicando construtoras e o setor da construção civil.
A rejeição ao projeto abre espaço para votação do PLS 288/2017,
do senador Dalírio Beber (PSDB-SC), que também trata de distrato. O
texto está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e foi
apontado por vários senadores como mais equilibrado.
A
senadora Simone Tebet (MDB-MS), relatora do vencido, ou seja, do parecer
pela rejeição do PLC 68/2018, chegou a apresentar 10 emendas para
tentar equilibrar as relações entre construtoras e mutuários. O relator,
senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), acatou algumas delas, mas a maioria
dos senadores entendeu que não são suficientes para proteger os
consumidores.
—
Amanhã teremos na CCJ um projeto mais completo e mais justo, que
equaliza direitos de compradores e vendedores. O projeto tem
substitutivo do senador Armando Monteiro [PTB-PE] e esse projeto pode
ser votado em regime de urgência e amanhã mesmo ir para Plenário. Em
nome da segurança jurídica, do mutuário e do próprio incorporador é
preferível deixar como está do que aprovar PLC 68 — disse Simone Tebet.
Conforme
o projeto rejeitado, as incorporadoras ou construtoras terão direito a
reter parte do valor pago pelo comprador que desistir do negócio. O
percentual dependerá do tipo de contrato. Quando o contrato estiver sob o
chamado “regime de afetação” — quando o empreendimento tem seu
patrimônio separado do da construtora — a taxa de retenção pelas
empresas poderá chegar a 50% do valor pago pelo adquirente.
Nos
outros casos, as empresas poderão ficar com até 25%. Também não será
devolvido ao comprador o valor pago pela corretagem e a devolução da
quantia restante terá de ser realizada em até 180 dias após o fim do
contrato, sem sofrer qualquer tipo de ônus. Caso o atraso seja superior a
seis meses e o comprador desistir do negócio nesse período, a
incorporadora terá de devolver todo o valor já pago pelo comprador, além
da multa prevista em contrato em até 12 parcelas.
A
senadora Kátia Abreu (PDT-TO) observou que as regras contidas no texto
poderiam levar os compradores a ficar devendo às construtoras mais do
que já haviam investido no imóvel, como nos casos de devolução de lotes.
Segundo ela a classe média, incluindo muitos dos que compraram imóveis
do Minha Casa, Minha Vida seriam prejudicados em caso de desistência.
— Desses distratos, 22% a 25%% estão na faixa do Minha Casa, Minha Vida. Não estamos falando só de gente rica — afirmou.
Os
senadores Jorge Viana (PT-AC) e Vanessa Grazziotin (PCdo B-AM)
reconheceram a crise por que passa o setor de construção civil e
defenderam uma discussão mais aprofundada sobre o tema. Vanessa observou
que o texto encaminhado pela Câmara é diferente do que foi proposto
pelo deputado Celso Russomano (PRB-SP), que limitava a 10% a multa que
ficaria com as incorporadoras em caso de desistência do mutuário.
— Aqui
está sendo prevista uma multa de 25% e outra de 50%. Os valores
retidos, incluindo o valor de corretagem, [que] poderão ser retidos pelo
construtor, podem chegar a próximo de 80%. Isso não é pouca coisa. Não
estamos falando aqui de pessoas que utilizam bens imóveis para fazer
especulação. Tem também, mas não é isso que estamos tratando aqui.
Desfiguraram o projeto inicial. O projeto retira a economia de uma vida
inteira de um mutuário — criticou Vanessa.
Em
defesa da proposta, o líder do governo, senador Romero Jucá (MDS-RR)
disse haver urgência para se criar um marco legal para o setor. Segundo
ele, a construção civil está com dificuldades, o que prejudica a geração
de empregos. O senador chegou a propor um acordo para que o presidente
da República, Michel Temer, vetasse alguns pontos da proposta, mas sua
sugestão não prosperou.
— Esse
projeto deveria ter sido aprovado dois anos atrás. Estamos em uma
situação de penúria e dificuldade no setor de construção civil. Hoje a
insegurança jurídica é total. Cada decisão judicial cria um parâmetro
diferente — disse Jucá
Fonte Agência Senado
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